30.9.06

Primeiro de Outubro

Tanta gente inteligente escrevendo a respeito de política, eleições, dossiês e mensalões... Fico até tímido. Vou tentando entender as coisas que acontecem à nossa volta, buscando transformar minha perplexidade em atitudes coerentes e eficientes.
Conversei com alguns amigos sobre política nos últimos dias. Sempre que me perguntavam sobre meu voto, eu diza: indeciso. Mea culpa. Demorei demais a realizar o esforço de entender o cenário político e avaliar as propostas dos candidatos, por mais desacreditados que estes possam estar.
As palavras de Ruy Fausto, publicadas na Folha de São Paulo da última sexta-feira (29/09), amenizaram o incômodo que senti por saber apenas "por alto" dos escândalos de corrupção excessivamente abordados pela mídia. Ele escreveu:

"... tentei fazer um balanço das razões que poderiam nos levar a votar em cada um dos candidatos e das razões que nos impedem de votar neles. Acho que estas últimas são, em geral, mais fortes do que as primeiras."

Não há muito mais a comentar. Mesmo porque já disseram muito a respeito, e de um jeito que eu gostaria de ter competência para fazer. Por isso procuro usar este espaço para refrescar nossa memória. Só pra ficar provado que está tudo fora do lugar e que pouca coisa mudou.

Onde Está a Honestidade?
Noel Rosa (1910 - 1937)

Você tem palacete reluzente
Tem jóias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...

O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...

Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente...

E o povo já pergunta com maldade:
Onde está a honestidade? Onde está a honestidade?



Luiz Gonzaga (1912 - 1989)

"Ê, sertão! Sertão das futricas... Sertão dos políticos, ha! Políticos enganadores, hein deputado? (A pergunta foi para Armando Falcão, que estava presente). A gente chega neles assim nos comícios... 'Dia três todo mundo lá!'. Todo mundo lá... Ninguém sabe em quem votou, hehehe... Sabedoria alheia: 'não voto nesse homem não que ele é rico...'.
Vai votar em quem, Pedro? No coroné.
E pra deputado? É no coroné.
Pra senador? É no coroné!
Pra prefeito? Coroné...
Pra presidente da república? É no coroné!
Hehe! O que vale é que os coronéis perderam cartaz. Hoje não tem mais esse negócio de coronelismo. Coroné hoje é coroné mesmo! Mas eu dou viva ao sertão, ê... Sertão das políticas! Das futricas! Sertão dos cabra valente! E dos cabra frouxo também..."

[ Fala de Luiz Gonzaga no intervalo entre duas músicas que ele cantou no show "Volta pra curtir", realizado no Teatro Tereza Rachel (RJ) em 1972 ]


O Eleito
Lobão ( 1957 - )

Ele é esperto e persistente
Acha que nasceu pra ser respeitado
Ele é incerto e reticente
Acha que nasceu pra ser venerado
O palácio é o refúgio mais que perfeito
Para os seus desejos mais que secretos
Lá ele se imagina o eleito
Sem nenhuma eleição por perto

Seus ternos são bem cortados
Seus versos são mal escritos
Seus gestos são mal estudados
A sua pose é militarista
Ele se acha o intocável
Senhor de todas as cadeiras
Derruba tudo pra ficar estável
Ele não está aí para brincadeira

E o tempo passa quase, quase parado
E eu aqui sem a menor paciência
Contando as horas como se fossem trocados
Como se fossem contas de uma penitência
E tudo, tudo parece estar errado
Mas nesse caso o erro deu certo
Foi o que ele disse ao pé do rádio
Com a honestidade pelo avesso

Ele é o esperto, ele é o perfeito
Ele é o que dá certo, ele se acha o eleito

2 comentários:

Anônimo disse...

Hola Maurício,
Pois é, segundo turno. E virão tormentas, esteja certo disso.
As músicas, cada uma em seu momento histórico, são e foram propícias. Porém, sabemos que a ladainha é antiga...
E aí, de onde virão os renovados ventos?
Sei lá, tô meio assim, assado. Continuo caramujo, caramujando, sorry...
beijo & esperanças,
Palena

Feliz disse...

cidadão instigado... vou baixar hoje mesmo, meu chapa. obrigado pelo comentário e pela dica. abraço.