21.2.08

Farol

Angélica fazia jus ao nome, mas sofria.

Violentada pelo padrasto aos catorze anos,

fugiu de casa ainda grávida.

Angélica passou a viver no cruzamento

de duas grandes avenidas de São Paulo.

Acudida pelo Dr. Benedito, obstetra que passava

no momento em que se rompeu a bolsa,

deu à luz um menino – a quem

decidiu dar o nome Bento.

Parecia que Angélica havia encontrado

uma luz no fim do túnel,

mas ela voltou pro farol

e ali cresceu o menino Bento.

Eles sempre viveram dos trocados

que motoristas sacavam do fundo

de suas bolsas e porta-níqueis,

mas sempre com grande dificuldade.

Angélica não resistiu ao último inverno:

sucumbiu ao frio aos 33 anos.

Bento quase foi para o seminário aos

dezoito anos, mas teve medo da clausura

e de deixar a mãe sozinha na rua.

Depois que ela morreu, foi rezar na Sé

pedindo a Deus por ela, mas se perdeu.

Portando uma arma de brinquedo que

encontrou no meio do caminho,

tentou um assalto no primeiro farol

após a saída do túnel da Avenida 9 de julho.

A vítima estava armada e disparou três tiros

20.2.08

A violência avança

Um assalto à mão armada no cruzamento da Av. Brasil com a Av. Rebouças.

Um assalto à mão armada às oito da manhã bem na porta de casa.

Um menino vendendo bala no sinal num domingo à noite sob um temporal.

O que é mais violento?

O que nos violenta?

O que devemos temer:

O medo de matar ou

O desejo de morrer?

A volta do malandro

(Chico Buarque)

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram nos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé