10.9.06

Girou a chave, a maçaneta, bateu a porta atrás de si. Caminhou pelo corredor à procura de certezas. Viu as pilhas de jornais e revistas, os discos que tanto aprecia, a estante cheia de livros, pálidos ou não. E viu que tudo era bom. O motor da geladeira voltou a funcionar. Era o convite que faltava. Abriu a porta e uma lata de cerveja apareceu em sua mão. Não era possível voltar atrás. Cada movimento o deixava cada vez mais perto da morte. Invariavelmente. O primeiro gole teve um sabor amargo como o primeiro trago no cigarro daquela madrugada fria. Dez graus de calor insuficiente. Bastou. Dormiu sobre os papéis carregados de poesia, cartas de amor que ela jamais leria, mas que ele insistia em escrever. Então sonhou. Tão verdadeiro foi o sonho que. Testemunha do maior dos antagonismos. Vida e morte se casaram num cartório à beira estrada. A paixão promoveu a cerimônia mas quem a celebrou foi a esperança. Desligou todas as travas e derrubou barreiras, apesar das palavras de advertência. Tinha plena consciência de que não precisava saber pra onde, só precisava ir. Mas na hora K, não foi. Todas as placas se impuseram no momento decisivo: respeite a sinalização, proibida a ultrapassagem, sentido obrigatório, dê a preferência, reduza a velocidade... E todas passavam por ele cada vez mais depressa mas tão depressa que ele já não conseguia decifrá-las. Acordou aflito. Levantou contrariado. Nada daquilo aconteceu de verdade. Mesmo em sonho, era perseguido pelo princípio da realidade. E viu que isso não era bom.

2 comentários:

Anônimo disse...

vc é tão intelectual....Te adoro viu?
beijo!

Anônimo disse...

esse moço me parece apolíneo demais; fosse mais dionisíaco...