31.12.06

O último de 2006

Não tem tradução

Uma pessoa me disse que a vida é muito simples e que a gente torna tudo mais complicado. Tenho a impressão de que, na verdade, tudo é muito complexo – o corpo humano, o universo –, mas pode ser muito simples lidar com toda essa complexidade. Tentarei exemplificar.

(Continua lá no www.banga.zip.net - tem um link aqui também)


Excelente 2007!!!

29.12.06

Música fosse oração

Gostaria de escrever uma bela mensagem para os visitantes deste blog, mas não pude. O mundo à nossa volta parece agonizar. Outrora "O grito" e "Guernica" deram conta de refletir o estado de espírito da humanidade - não vamos discutir a intenção dos artistas, não é esse o caso. Hoje, talvez seja preciso algo entre os dois - ou algo além. Já ouvi dizer que isso é pessimismo, coisa de (pseudo-)intelectuais. Concordo que eles até possam existir, mas enxergo o dito pessimismo como realismo. E, para muitos, a realidade incomoda demais. Vi uma pintura que talvez dê conta. Faz tempo, não lembro onde, de quem... mas eram retirantes.

Diante das previsões dos cientistas e dos últimos acontecimentos (tsunami, neve derretendo, ilha desparecendo), temos duas opções:
a) achar tudo muito natural, acreditando que o planeta está se ajustando às nossas vontades;
b) fazer o que está ao nosso alcance para evitar ou retardar os problemas que os habitantes deste planeta certamente enfrentaremos - direta ou indiretamente.

Voltando aos retirantes... O clima tá esquisito, não? Enquanto uns morrem afogados, outros morrem de sede. E se fosse sede só de água... Só que a sede do homem vai além, muito além. Já ouvi falar em sede de justiça, de paz, de viver. A letra da canção que segue é minha oração em prol da humanidade (sempre carente). Você tem sede de quê?

"Traga-me um copo d'água
Tenho sede
E esta sede pode me matar
Minha garganta pede
Um pouco d'água
E os meus olhos pedem
Teu olhar

A planta pede chuva
Quando quer brotar
O céu logo escurece
Quando vai chover
Meu coração só pede
Teu amor
Se não me deres
Posso até morrer"

[ "Tenho sede" - Anastácia / Dominguinhos - gravada por Gilberto Gil ]

26.12.06

Artista: Silvio Rodríguez
Album: Mujeres
Canción: Te doy una canción

Cómo gasto papeles recordándote
Cómo me haces hablar en el silencio
Y cómo no te me quitas de las ganas
Aunque nadie me vea nunca contigo

Y cómo pasa el tiempo
Que de pronto son años
Sin pasar tú por mí
Detenida

Te doy una canción
Si abro una puerta
Y de las sombras sales tú

Te doy una canción
De madrugada
Cuando más quiero tu luz

Te doy una canción
Cuando apareces
el misterio del amor

Y si no lo apareces
No me importa
Yo te doy una canción

(...)

Te doy una canción
Y hago un discurso
Sobre mi derecho a hablar

Te doy una canción
Con mis dos manos
Con las mismas de matar

(...)

Te doy una canción
Como un disparo, como un libro
Una palabra, una guerrilla
Como doy el amor

21.12.06

tapete vermelho

Se nada der certo,
viro jeca.

Canción de un amor extraño

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, que só
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Não dei pra você.



(Violação da canção Futuros Amantes - Chico Buarque)

20.12.06

Vaidade das Vaidades - II

Soube - pelas mais seguras fontes, que têm conhecimento acima do comum dos mortais - que tive uma boa atuação. Achei, até então, que as pessoas tinham sido generosas nos aplausos e cumprimentos. Parece que foi de verdade. O problema disso tudo é que eu continuo acreditando que posso realmente ter encontrado algo que faço direitinho, algo que pode continuar crescendo com um pouco mais de esforço e dedicação.

Corta para o dia primeiro de dezembro. Eu ainda não tinha conseguido mostrar nada de interessante, meu trabalho não tinha andado muito. Não fui pressionado diretamente por nenhum dos colegas, muito menos pelo professor. Posso ter sido pressionado indiretamente, mas nada foi pior do que meu senso de responsabilidade me cobrando. Afinal de contas, eu tinha o papel do protagonista. Então, me sentia mais ou menos assim:

"De vez em quando todos os olhos se voltam pra mim,
De lá de dentro da escuridão,
Esperando e querendo que eu seja um herói, (...)
Mas eu sou inocente.
(...)
Esperando e querendo que eu saiba,
Mas eu não sei de nada.
(...)
Esperando e querendo apanhar,
querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote.
Mas eu sou até fraco."*

E agora... Agora está tudo feito, mas já ouvi falar em novas apresentações da mesma peça. Todo mundo muito animado. Eu? Incomodado com um texto que fica ecoando na minha cabeça.

Estranho. Pensei que a vida voltaria ao normal, mas isso não existe. A vida é como ela é. E vai se transformando no contato com o outro. Inevitável, irremediavelmente. Passa, como uma onda no mar.

Isso também passará?




* "Todos os olhos" - Faixa título do disco do Tom Zé.

15.12.06

Vaidade das Vaidades - I

Quinze dias sem tirar a barba, dez dias sem beber e sem fumar. Pode ser crise de abstinência. Pode ser apenas o tirano vil do qual me aproximei. Não estou certo se foi nos últimos dias do ano passado ou nos primeiros dias desse ano. Acho que fui eu que liguei pro meu professor de teatro e lhe disse que não poderia continuar fazendo o curso. Sim, faço um curso livre de teatro. Sim, ele está no fim.

Um ciclo havia se fechado no fim do ano passado. Eu já estava cansado. Trabalho, faculdade e teatro? Muita coisa pra mim. Enfim... Naquele telefonema ele me falou pra continuar, que seria bacana, "vamos estudar Shakespeare". Legal!, pensei. Só que eu já estudaria o bardo, de qualquer maneira, por influência de uma carta que Mário de Andrade escreveu pro Fernando Sabino:

"Você precisa de uma cultura literária geral, que não deve ser feita duma vez só, mas dentro de um programa que pode durar ponhamos seis anos. Há certas coisas que a gente carece de conhecer e gostar. Gostar de, faz parte da dignidade humana do indivíduo. Você precisa ler Camões (...), Dante(...), o Goethe do Fausto e dos romances, está claro todo o Shakespeare, e assim por diante."*

Então disse que não dava, que eu precisava priorizar outras coisas, blá-blá-blá... E ele falou com tanta gentileza - não foi exatamente como um gentleman, foi quase como uma lady - que faríamos Macbeth, e que eu seria o protagonista, que.

Amanhã faremos única apresentação no Teatro Ruth Escobar. Ingressos vendidos, últimos ajustes de produção, ensaios finais, medo natural da estréia. Adiei o quanto pude a minha convivência com o personagem. Hoje ele é a minha sombra. Talvez eu já seja a dele. Ou, ainda, amanhã serei apenas um mau ator se debatendo sobre o palco e que depois será esquecido.

Todas essas palavras podem ser apenas uma forma de diminuir a ansiedade que antecede a apresentação. Stagefright? Não. Mesmo porque a Fernandinha Torres** afirmou que o temido pânico de cena só pode acontecer, de verdade, em praças onde o teatro é levado a sério. Isso significa que não levo a sério o que faço? Muito pelo contrário. Faço um curso livre de teatro, assumi um compromisso com o grupo e não larguei a corda. Amanhã mais um ciclo se fecha. Vou e estará feito.

Enquanto não fica feito o feito, aguardo o momento de renascer. Depois das vaias, ou dos aplausos e cumprimentos, vou beber uma cerveja bem gelada (porque o medo de ficar sem voz terá desaparecido), fumar dois ou três cigarros (já comprei dois maços hoje), correr pra casa pra tirar a barba (que não sei se terei coragem de deixar crescer novamente) e, finalmente, deitar tranqüilo, a mente sossegada, em sono quieto.

Será? Não sei... Quando eu acordar, já estarão me chamando outras questões: a casa pra cuidar, vôos para controlar, os preparativos para o Natal... Acho que a dúvida mais gostosa que terei pra resolver no domingo será a escolha do livro (de uma lista imensa) que começarei a ler nestas férias escolares.

Só que o mais interessante será nascer de novo, viver novamente apenas a minha vida. E que o tirano vil fique apenas no papel. Amém!




Agradeço a todas as pessoas que estiveram ao meu lado durante todo este processo, seja em casa, no trabalho, na faculdade ou no teatro. A lista chegaria ao fim do mundo. Recebam todos o meu abraço!


* Trecho de carta escrita por Mário de Andrade em 21-III-42, publicada no livro Cartas a um jovem escritor e suas respostas.

** Fernanda Torres fez a referida afirmação num texto de que gostei muito e está publicado na revista Piauí deste mês. Coincidência ou não, li o texto da Fernanda nesta manhã.

7.12.06

Que dia é hoje?

Parece que o blog tá fazendo aniversário...
Ah! Não?
Então está nascendo de novo...
Quem sabe, morrendo cada dia um pouco?
Que importa?

Fica a impressão de que está apenas em crise, e crescendo.
Vai ver virou um adolescente, mas conserva um coração de criança...




O adolescente (M. Quintana)

A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas

esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!

Cumplicemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!

(Apontamentos de História Sobrenatural, Porto Alegre, Editora do Globo, 1976)




CORAÇÃO VAGABUNDO (Caetano Veloso)

MEU CORAÇÃO NÃO SE CANSA
DE TER ESPERANÇA
DE UM DIA SER TUDO O QUE QUER
MEU CORAÇÃO DE CRIANÇA
NÃO É SÓ A LEMBRANÇA
DE UM VULTO FELIZ DE MULHER
QUE PASSOU POR MEUS SONHOS
SEM DIZER ADEUS
E FEZ DOS OLHOS MEUS
UM CHORAR MAIS SEM FIM
MEU CORAÇÃO VAGABUNDO
QUER GUARDAR O MUNDO
EM MIM

5.12.06

Cachorrada

Perdeu a dama, ganhou a lady,
mas continua um vagabundo...