25.8.10

(des)construção

é claro que esmeralda poderia não valer nada, poderia disfarçar sua fragilidade com uma agressividade que nada teria a ver com sua personalidade, poderia levar uma vida promíscua, desperdiçar todas as oportunidades que a vida lhe desse (ou não), ter mãe dedicada e pai amoroso (ambos decepcionados), trair seguidamente o marido e não prestar qualquer assistência à sua filha pequena. e é claro que esmeralda, pelo comportamento que sempre teve, poderia ter sido recompensada aos olhos dos leitores com a tora de madeira na cabeça, ao que diriam: "bem feito! merecia morrer mesmo!"
é claro que esmeralda poderia valer alguma coisa sem tocar quaisquer extremos. ela poderia ter sido violentada pelo pai, abandonada pela mãe, raptada pelo vizinho, ter fugido com um bandido, a morte poderia, talvez, ser merecida mesmo. que importa? amor, ódio ou indiferença seriam apenas formas de encarar as diversas formas de falar de uma vida que já não é, de uma vida à qual não se atribuiu qualquer valor. mas, é claro, nada disso precisava ser dito.

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