26.8.06

São Tomé das Letras

Acordou com um vazio dentro do peito. Pôs a mão. O buraco não deixava dúvida: fôra uma explosão. A poça de sangue no chão denunciava uma hesitação. Não é possível, ele deve ter olhado para trás! Por que partiu?

Liga para a tia, para o jardim de infância, para o jardim zoológico, para o centro de zoonoses, para o centro de macumba, para a delegacia de polícia e, por fim, para o instituto médico. Legal! Nenhum sinal...

Um gosto azedo na boca, a carne fria na casa escura, lá fora um sol de rachar. Um vinho! Um bom gole de vinho! Cambaleou mais que moribundo pequenos passos pelo corredor. Pegou a garrafa na cozinha. Ela não era sozinha. Uma pista.

"Veja bem, meu bem... Lamento. Cansei dessa falsidade, desse leva-e-traz. Você abusou, esqueceu. Você deixou. Saudade. E eu, sem entender direito, insistia em bater no teu peito. Estive contigo desde o início e todo bem que te fiz foi só mais um vício. Ossos do ofício. Vou para uma cidadezinha das Geraes mas, por favor, escuta dessa vez teu coração: não vem atrás. Já não quero olhos nos olhos, não quero saber o que você diz, o que você faz. Vou buscar novas emoções. Mas não vou para Três Corações. Arriscava a cidade ter que mudar de nome. Não. Vou-me embora para a cidade eleita pelos loucos que só acreditam lendo."

Largou a carta no chão fulminado.
Até hoje ninguém sabe qual dos dois parou primeiro.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mau!!!!!!!

Só pra vc não dizer que a gente não te dá atenção, não acompanha seu blog, etc etc etc... hehehe

Adorei o texto! Rolou uma certa identidade minha com ele! rsrs... sério mesmo... sou sua fã!

Bjokas!

Anônimo disse...

Sei que estou em dívida com você. Mas mesmo lendo esse texto muitíssimas vezes, só posso dizer que gostei muitíssimo. Ainda mais dos subentendidos, e do final mistério e das internas. Ritmo. Adorei o bilhete.
Beijos e continue sempre.

Anônimo disse...

Só tenho uma coisa a dizer sobre esse texto:

Car...!