6.8.06

Educação Sentimental

Quando completou 12 anos, inchou, sangrou, e a mãe:
"Minha filha: o sonho acabou.
Não deixe que ponham a mão aqui, não meta a boca acolá.
Olhe bem com quem você anda!
Saiba que, de agora em diante, tendo ou não alguém para amar,
nosso destino é sangrar."

Quando ele completou 13 anos seus banhos ficaram mais longos.
O pai o catou pelo braço e foi lhe dizendo
ao pé do ouvido:
"Meu filho, você está crescendo, ficando forte, bonito.
Vai ter um montão de mulheres
se pendurando no teu pescoço,
esfregando na sua cara.
Cuidado com quem você anda!"

Cresceram.
Vieram as coleguinhas, a televisão,
as sessões da tarde com idílicas lagoas azuis.
Estava feito o estrago.
Amada, amantes, amanticidas.
Que língua era aquela?
Uns moleques cantando no rádio,
um sotaque diferente mas que ela entendia.
Ouvia uma voz cantando duzentas vezes ao dia:
"Não se reprima, não se reprima, não se reprima!"

Até que um dia ele comeu a prima.
E a amiga da prima.
A irmã do amigo, a cunhada,
a empregada, a filha do vizinho.
Só.
Sozinho.

Ela também deu seus pulinhos.
Nunca mijou na cama
mas deu pra mijar nas calças.
E descobriu o que era quebrar o côco
sem arrebentar a sapucaia.

Ele descobriu com Itamar Assumpção
que o negócio não tem solução.
"A gente nasce, vai crescendo, crescendo... até atingir a adolescência.
Começa um fogo por dentro que vai queimando...
e uma inexplicável e violentíssima atração pelo sexo oposto.
Daí até a morte é um Deus-nos-acuda..."

Ela? Ela ainda...


Música incidental: MARAVIDA (Gonzaguinha)

Era uma vez eu no meio da vida
essa coisa assim, tanto mar...
Coisa de doce e de sal
essa vida assim, tanto mar, tanto mar...
Sempre o mar, cores indo
do verde mais verde
ao anil mais anil
Cores do sol e da chuva
do sol e do vento
do sol e do ar
Era o tempo na rua e eu nua
usando e abusando do verbo provar
Um beija-flor, flor em flor, bar em bar, bem ou mal
Margulhar
Sempre menina franzina traquinas
de tudo querendo tomar e tomar
Sempre garota marota tão louca
à boca de tudo querendo levar
Vida, vida, vida...
Que seja do jeito que for!
Mar, amar, humor, se é dor
quero o mar dessa dor
Quero o meu peito repleto
de tudo que eu possa abraçar
Quero a sede e a fome eternas
de amar e amar e amar...

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