10.10.06

...zzz...

Meia-noite. Não era o silêncio que invadia a sala o motivo do desconforto. Tudo correra muito bem, por sinal. A barriga cheia, a cama quente, o corpo quente, mas veio a sede. Sem pensar, sentou-se. Bocejou. O corpo cansado do sexo. Torpor de não querer levantar jamais. Já havia se sentado. Estava fácil. Os pés já esquentavam o chão. Bastava respirar fundo e levantar de uma só vez. Foi mais fácil do que pensava. Cruzando a porta do quarto percebi a hora morta. Nada. Parece que o mundo parou. Não chove, não ouço os bichos da noite, tampouco suas máquinas. Só silêncio. Atravesso o corredor pra beber água. Dois, três, cinco goles. Nem gatos, nem galos, nem corujas. Só a sensação de plenitude alimentando o desconforto. Sede saciada, caminho até a sala e abro a velha pasta onde encostados estão os textos que ninguém leu. Saco duas folhas de uma vez, daquelas que estão em branco. Faço um esforço enorme para pensar qualquer coisa que possa escrever nessa hora. Não é possível. O corpo está saciado. A mente com tudo mente. A retina é ferida pela luz que ilumina a mão esquerda empunhando a caneta azul. Só. Não há nada para além disso. Olho para o espaço em branco no papel e o desconforto se transforma em desespero. Quantas palavras serão necessárias para chegar ao final da folha e transferir para o papel essa tal saciedade, essa estúpida sensação de completude? Se ao menos eu conseguisse preencher todos os espaços em branco nesta folha, poderia me levantar, repousar a caneta, guardar os papéis, apagar as luzes e voltar para a cama. Feliz. Morto. Não conseguiu. Desistiu. Mirou as paredes brancas, vazias, cheias o suficiente. Coçou a cabeça maquinalmente. Percebeu que estava dormindo.

Nenhum comentário: