5.10.06

O olha-dor

Interrompeu a aula a contragosto. Tudo corria bem até ligarem um microfone diante do prédio. O que será que os alunos estão aprontando dessa vez? Tentou ignorar o barulho. Você! Sim... Você de blusa azul. Leia a parte do repórter. E você de vermelho. Quem, eu? Sim, você! Leia a parte do assassino. Palmas do lado de fora do prédio. O professor respirou fundo e pediu que continuassem a leitura. "É necessária muita cautela para chegar a alguma verdade quando se trata de atos humanos. Não acredito em causas isoladas ou muito precisas. Mas eu, mais do que todos, estou interessado, a respeito desse caso todo, em chegar a uma verdade pelo menos relativa." Palmas lá fora. Ele baixou a cabeça durante trinta segundos até o silêncio. O coração não parava quieto. "Não exatamente, embora o ódio também existisse latente, como sempre acontece em relações desse tipo." Vaias terríveis fizeram-no estremecer. Disfarçou o desejo de esmurrar a mesa com um jeito estranho de coçar a cabeça. Por quê esses malditos alunos não estão na sala de aula? Ordenou: continuem! "Não, eu não estou louco. Estou certo de que o que se passa em minha mente, em toda mente humana, é natural a ela e passível de ser entendido por todas as mentes." Então, o som dos tambores invadiu o corredor. Tudo o que ele gostaria de fazer era esganar um por um. O coração disparou em bombas e ele se rendeu. Ok! Terminou a aula cedo. Eu não sabia mais o que fazer. Desmontei. Quando vou aprender a lidar com essas pessoas? Vivem fazendo perguntas que não estou disposto a responder. Querem me questionar como se eu fosse o cânone! Mirou a sala vazia até que os tambores tivessem se afastado. Deixou a sala, mas não estava sozinho. O vazio foi sua companhia em cada um dos dezoito degraus da escada, através da porta de acesso e durante os doze minutos em que permaneceu sentado no banco em frente ao prédio. Esses alunos não entendem nada... Já não era ódio. Era indiferença.


[ Citações do conto "O monstro", de Sérgio Santana ]

2 comentários:

Feliz disse...

ah, a escola... bons tempos. bom texto. abraço.

Anônimo disse...

ê, Jaimão!
foi foda, né?
e sabe de uma coisa, Maurício? Eu não consigo nem ir falar com ele... tenho coisas explodindo na cabeça e idéias e tal e tremo só de entregar a prova ou a proposta do trabalho... ele me intimida demais...
ficou ótimo o texto... até as vaias combinaram... e os aplausos... bem criativo, hem? hem?
beijo!