8.7.10

Beijo

Não foi convidada, simplesmente entrou. Encontrou a porta aberta e entrou. Nosso amor, fosse puro, teria pulado o muro como um Chacal. A vida, no entanto, não é o que se lê, o que se vê na tela, na tele, e você ficou bruta, flor. Essa louca desvairada desavisadamente deixou a glória de uma vida sem percalços, papai-mamãe, filhinha. Preferiu ficar suja de vinho e terra e mato e cheiros. E lama. Barroca. Conviver não pode se não sangrar a outra. Pela janela vê apenas uma ópera bufa. É, no entanto, partícipe; ouviu a porta fechar atrás de si. Não sabia que não encontraria o amor. Cegar, cega. Passou por ele duas ou três vezes. Carne, ossos, sangue, cheiro, pêlos, poros. Era tudo tão claro que nem parecia um túnel atravessando a alma e transformando o tempo para sempre. Estava decidida: caminharia sobre o fio da navalha até o fim da linha. Chegar, chega. Beija, sobre a lagoa, a mãe da violência, a flor do meu desejo.


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