10.6.10

Óbice

Um intricado jogo de movimentos acendeu a luz do dia seguinte. Ficou iluminada a figura à espera de nada. O que podem chamar inércia não revela o que o silêncio releva. Foram três projéteis desnecessários. Importava toda espécie de mercadoria até o último dia de vida. O sequestro atravessou seu caminho como um relâmpago. Por obséquio, não façam isso. Taparam-lhe a boca para que deixasse de falar. Violaram-na três vezes. Arrancou forças do fundo daquela dor pedindo que fosse imolado: comam minha carne, bebam meu sangue. Nada. Duas crianças nasceriam naquela tarde. Não lhes deram a oportunidade. A filha mais velha vazia vermelha violeta. Vazar não vazava; jorrava desfeita. A navalha correu por cada parte de seu corpo em choque. Apesar de abertas as pálpebras nada mais colava naquelas retinas. Não era errante aquela alma. Era a própria calma. Palavras avulsas que ouvia às vezes não indicavam uma pista sequer de seus carrascos. Tentava lembrar em vão, apenas vinha a imagem do museu. Naquele exato momento sua memória era violada. Não havia veludosas vozes, poetas, música inspirada. Apenas uma contralto. Ditava o ritmo o ruído surdo da terra batendo à sua porta, mas ele não atendia.

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