21.6.10

don't be afraid of your freedom!

(rudimentos de uma poética patética)

Claro que ele vai pensar em você todos os dias até o fim da vida porque a vida é tão curta e ele precisa fazê-la maior que ele, maior que ela, maior que o mundo, e girar sobre o próprio eixo até ficar louco de tão perdido neste labirinto que nem são pedro almodóvar poderia inventar para um filme aplastado de paixão projetado numa das paredes quando você já não sabe em que sentido seguirá porque as palavras funcionam breve quando saem da ponta dos dedos caem no buraco negro hiperespaço não sabemos mais onde podem parar porque elas não param jamais sendo ficção verdade mentira engenho alucinação ou não não importa muito quem mandou várias palavras podem mesmo ser uma pedra no sapato de quem como eu como você não quer qualquer coisa além de brincar no jardim de babel beibe porque nele encontramos as árvores frondosas que nos permitem ler l'étranger sem culpa e sem medo de não entender porra nenhuma do que camus quis dizer mesmo porque sabemos que ele não quis dizer porra nenhuma fato é que há muito não buscamos e este é apenas mais um lugar comum não buscamos entender o que o artista quis dizer incluso porque hay un montón de gente que não quer dizer nada mesmo porque não têm o que dizer ou porque é autista que me perdoem os autistas e só dizem sandices as I would se dissesse que verdadeiramente sou o que restou dos siete locos depois que mataram os outros seis naquele lugar terrível no country for old men não digo que isso é uma forma de arte uma obra de arte morta de marte depois daquele desconcerto devidamente bem acabado luego de escuchar a sinfonia n°9 apesar de preferir o silêncio cortado apenas pelo barulho das ondas de violência gratuita que o rádio despejou no ouvido sensível alaranjado pela mistura de olhos dourados cabelo vermelho sangrando no bosque por onde passaram um rio um bote um guerrilheiro um quero-quero un oso rojo tres tigres tristes e uma galáxia do haroldo de campos senhor cidadão eu e você temos coisas até parecidas por exemplo nossos dentes da mesma cor do mesmo barro enquanto os meus guardam sorrisos os teus não sabem senão morder no auge da sua algolagnia diante da minha agonia citando shakespeare máximo denominador comum ou não vão dizer que são tolices fosse o que fosse a lo que voy te vaya bien porque vamos em qualquer língua mas vamos pra qualquer inferno mas vamos ao fundo do poço vamos ao jardim das palavras ao reino encantado das línguas mortas mas vamos brincando com todas essas bobagens que só a ficção perdoa desde que devidamente pensada por exemplo não quero saber do que pode dar certo não tenho tempo a perder também é letra de uma música e só fica por aqui pra servir de exemplo depois a gente conversa sobre isso a verdade é que quando aquele silêncio for insuportavelmente denso você fará tudo para furá-lo com o punhal que ele te deu de presente esperando que sangre mas não conseguirá pois este vazio será o oxigênio que o peixe não respira fora da água les mots les choses lacan foucault freud lo que quieras nadie nada nunca sabrá lo que ha sido vivir tais escolhas but me 'cause I'm free to do what I want any old time até que a luz se apague até que o motor pare até que marte nos separe ou aquele mesmo silêncio nos leve ao que restou dos corais coloridos que um dia ele desenhou no papel de pão e deixou sob a pedra que foi rejeitada mas virou a pedra angular.


Saudade Luso-Galaica

Não o estremecimento
nas linhas de árvores, no verde
das sombras, na linha
da encosta que desce.
Nem a ternura onírica
pela infância exangue. 

Mas outro princípio, em outra
fonte magnânima. O jorro
da vida poética patética.

Fiama Hasse Brandão


 

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