22.11.06

A prosa do povo

Foi no corredor de ônibus.
Parei ao lado do motorista
e tentei compartilhar do seu ponto de vista.
Era um ônibus novo, de piso baixo, eu ali ao lado.
Ignorei engenhocas para abrir e fechar as portas,
ignorei os retrovisores, o câmbio.
Eu olhava apenas pro ponto e,
sobre as faixas, os pedestres.
Lotados os corredores Rebouças-Consolação;
no Anhangabaú, aquela multidão...

18:15

Saltei na Sé e, com fome, corri pra lojinha do Ronald.
Subi até um salão tranqüilo.
Comi.
Não sei se foi o calor, não sei se foi a multidão
Só sei que meu paladar se foi.
Não tinha gosto, aquilo.

Uma amiga me falou
ao caminhar comigo um dia
pr'eu andar mais devagar
Perguntou: você tem pressa?
Eu respondi a ela que não tinha pressa alguma
Algum tempo depois ela me disse
- Caminhemos bem devagar...
Então, senti melhor o sabor que tem a vida.

Será que as pessoas no ponto
sobre as faixas de pedestres
no Anhangabaú ou na Sé
conseguem sentir o pé?
Será que dói? Sente calor?
Será que sente?
Sei não.
Só sei que tudo começou naquele mesmo busão
lendo ao lado do piloto um poema do Drummond
Tá no livro A rosa do povo: "Noite na repartição".

Será que falta uma frase aqui? Acho que não... Eu não quis fazer uma quadra, não quis fazer versos (não?!!!), não quis ser poeta. Só fiz soltar o verbo, rs...

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