29.5.10

Langó


Quase todos os dias ele aparece no corredor. Abro a porta e ele está esperando por mim, certo de que vou alimentá-lo. Quando não está, vejo gotas de sangue no chão e acabo ficando preocupado. Não é todo dia que um elefante multicolorido aparece no quintal da sua casa, não é verdade? Multicolorido porque ele, que no início era branco, começou a ficar meio rosado. Uns dias está vermelho, às vezes verde, marrom. Ontem mesmo ele estava azul. Faz três semanas que a gente deu pra conversar. Quer dizer, ele é que anda falando um monte. Dedico algumas horas do meu dia a ouvir o que ele quer me contar. Cada história! Outro dia foi engraçado: estava roxo, parecia asfixiado. De repente começou a falar e parecia que nunca mais ia parar. Contou cada história cabeluda... Nesse dia, à medida que falava, ia mudando de cor. Depois de duas horas e meia estava branco e cansado. Acabou dormindo ali no corredor. Fui trabalhar e quando voltei ele tinha ido embora. Quando abri a porta encontrei um bilhete. Dizia que voltaria em breve, que não tardaria. Foram quatro dias de ausência. Acho que já estou acostumado com sua presença. Combinamos de ir à feira amanhã e depois ir direto para o Pacaembu assistir Corinthians x Santos. Não sei se ele vai aparecer. A zebra já disse que não vai porque neste jogo não há favorito. Ah! Disse que se chamava Langhorne, mas não fez muita diferença pra mim. Eu o chamo de Langó. Amanhã vamos ao estádio.

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