20.12.06

Vaidade das Vaidades - II

Soube - pelas mais seguras fontes, que têm conhecimento acima do comum dos mortais - que tive uma boa atuação. Achei, até então, que as pessoas tinham sido generosas nos aplausos e cumprimentos. Parece que foi de verdade. O problema disso tudo é que eu continuo acreditando que posso realmente ter encontrado algo que faço direitinho, algo que pode continuar crescendo com um pouco mais de esforço e dedicação.

Corta para o dia primeiro de dezembro. Eu ainda não tinha conseguido mostrar nada de interessante, meu trabalho não tinha andado muito. Não fui pressionado diretamente por nenhum dos colegas, muito menos pelo professor. Posso ter sido pressionado indiretamente, mas nada foi pior do que meu senso de responsabilidade me cobrando. Afinal de contas, eu tinha o papel do protagonista. Então, me sentia mais ou menos assim:

"De vez em quando todos os olhos se voltam pra mim,
De lá de dentro da escuridão,
Esperando e querendo que eu seja um herói, (...)
Mas eu sou inocente.
(...)
Esperando e querendo que eu saiba,
Mas eu não sei de nada.
(...)
Esperando e querendo apanhar,
querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote.
Mas eu sou até fraco."*

E agora... Agora está tudo feito, mas já ouvi falar em novas apresentações da mesma peça. Todo mundo muito animado. Eu? Incomodado com um texto que fica ecoando na minha cabeça.

Estranho. Pensei que a vida voltaria ao normal, mas isso não existe. A vida é como ela é. E vai se transformando no contato com o outro. Inevitável, irremediavelmente. Passa, como uma onda no mar.

Isso também passará?




* "Todos os olhos" - Faixa título do disco do Tom Zé.

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