7.3.10

Faaala, Nelson Rodrigues!

Eis o que eu gostaria de observar, a título de ilustração: - as lagostas são, em nossa experiência, como que as lagostas do Sartre. O sujeito que diz "eu te amo" fala de um sentimento que não tem a uma pessoa que não existe. Pode parecer exagero. Nem tanto, nem tanto. Retocamos e acrescentamos tanto ao ser amado, e o recriamos tantas vezes, que ele se torna a mais absurda e irreal das lagostas. O nosso "muito prazer" refere um sentimento que também não existe. E, no entanto, o que chamamos de "vida real" é tecido de "muito prazer", "bom dia", "te amo" e, pois, de frenéticas irrealidades.

História de Lagostas. (O Globo, 19/01/1968)

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